Daqui a pouco, em 1º de janeiro, a fatura começará a chegar para os 5.570 prefeitos municipais. E parte da conta para os cerca de 60 mil vereadores. Antes, um período para que todos possam tomar um banho revitalizante entre o Natal, o Ano Novo e a posse. Hora de reflexão: por quê ganhei, onde obtive mais votos, onde perdi e a razão, quais demandas e promessas assumi, que base política devo montar, qual a verdadeira situação do município que vou administrar por (mais) quatro anos?
De pronto, vocês viram na última linha anterior um (mais), que é uma lembrancinha pertinente a quem permanece no cargo. Para muitos desses, a lógica é a da sequência ao que vinham fazendo. Nada mais errado. Nesses tempos de extrema carência, os modelos precisam ser alterados, com choque de eficiência e na performance geral. Assim como os novos, tratem o desafio de recomeçar com a disposição de fazer o melhor em todas as áreas.
É evidente que deve haver análise, estudos, ações e projetos, razão pela qual tanto se prega um “programa de 100 dias”. Como trabalhar nesse tempo sem paralisar as atividades essenciais? Essa primeira fase tem como foco “a arrumação da casa”, verificar o que impede o bom funcionamento da engrenagem, trocar equipamentos, pessoas, métodos.
Mesmo difícil aos prefeitos de muitas regiões onde ainda se pratica política no molde antigo, o bom senso indica o uso da meritocracia, com especialistas em cargos-chave na administração.
A partir daí, o campo das emergências e de alta prioridade, com ênfase para os equipamentos hospitalares, imprescindíveis nesses tempos do Covid-19, mesmo que a vacina já esteja em uso. Em vez de nova administração, o mais prudente é rearrumar a casa, mudar o necessário.
A seguir, com um olhar acurado para todos os serviços públicos essenciais, o plano de 100 dias terá condições de mirar as ações para 2021. A situação da economia brasileira ainda padecerá de fraqueza. O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, alertou que o mundo viverá no próximo ano a mais dura recessão desde a II Guerra. Analistas refazem projeções em diminuta margem de crescimento.
Obras de médio e longo prazos, só se houver recursos. Esqueletos e elefantes brancos mancham a imagem do governante.
Sob o olhar mais crítico do eleitor, o prefeito haverá de se desdobrar em programas baratos e criativos. O investimento em treinamento do funcionalismo dá grandes resultados.
É claro que não se deve esquecer a política. A boa política, não a politicagem. A começar pela articulação com a bancada legislativa e o compromisso geral de trabalhar em programas de alto teor para a comunidade.
Já a articulação social – o contato estreito com as entidades e as organizações e suas lideranças civis – também se enquadra aí, pois a tendência para os próximos tempos é a governança participativa: a voz do povo ouvida na condução municipal.
Dessa forma, o governante atravessará os ciclos de crescimento, maturidade e clímax que o tornarão respeitado e até admirado. Agora, se não fizer uma boa lição de casa, antecipará a fase perigosa de uma administração, que é o declínio.
Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político