A revelação da verdadeira identidade de um juiz aposentado escandalizou o Judiciário brasileiro após mais de 40 anos de atuação sob nome falso. O Tribunal de Justiça de São Paulo alterou oficialmente o nome de Edward Albert Lancelot Dodd-Canterbury Caterham Wickfield para José Eduardo Franco dos Reis, pondo fim à farsa que perdurou por décadas. A decisão, publicada no Diário da Justiça, marcou o encerramento de um dos episódios mais inusitados do sistema jurídico nacional, envolvendo não apenas falsidade ideológica, mas também o uso indevido de documentos públicos.
A história do juiz com nome britânico falso veio à tona quando Reis tentou renovar seu documento de identidade em outubro de 2024, utilizando o nome fictício. A coleta digital no Poupatempo revelou que havia coincidência entre as impressões digitais de duas identidades distintas, desencadeando uma investigação da Polícia Civil. Com isso, comprovou-se que José Eduardo e o então juiz Wickfield eram a mesma pessoa. A fraude começou em 1980, quando ele apresentou uma certidão de nascimento com informações forjadas para obter um novo RG.
A trajetória do juiz com nome britânico falso começou de maneira sólida: formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo e ingressou na magistratura em 1995. Durante sua carreira, ocupou postos importantes, comandou unidades da Escola Paulista de Magistratura e proferiu milhares de sentenças usando sua identidade inventada. O prestígio que construiu ao longo dos anos foi sustentado por um nome que transmitia nobreza e refinamento, estratégia que teria sido adotada após uma viagem frustrada ao exterior, segundo depoimento do próprio réu ao psiquiatra responsável por laudo anexado ao processo.
Mesmo diante da gravidade da acusação, a defesa do juiz com nome britânico falso sustenta que ele nunca se beneficiou materialmente da identidade fictícia nem causou prejuízo a terceiros. Baseando-se em laudo psiquiátrico, seus advogados alegam que ele sofre de transtorno de personalidade esquizoide e pedem sua absolvição por insanidade mental. Para fundamentar o pedido, destacam o desejo de “renascer como outra pessoa” após episódios traumáticos de sua juventude. No entanto, o Ministério Público vê a situação como uma tentativa calculada de enganar as instituições.
O caso do juiz com nome britânico falso teve um desfecho jurídico relevante quando o TJ-SP retificou oficialmente seus registros. A medida foi simbólica e prática: apagou dos documentos públicos o nome de Wickfield, que jamais existiu legalmente, e reconheceu José Eduardo como o verdadeiro responsável pelos atos praticados no exercício da função pública. A Corte também declarou, em documento oficial, que a nomeação para a magistratura, feita com base em documentação forjada, passou a ter validade apenas com os dados reais do ex-magistrado.
A repercussão do escândalo envolvendo o juiz com nome britânico falso expôs falhas históricas nos mecanismos de controle de identidade no serviço público. Durante décadas, nenhuma autoridade ou instituição cruzou os dados básicos que hoje seriam facilmente identificados com tecnologias de biometria e sistemas digitais de verificação. Foi apenas com o avanço tecnológico das bases de dados da Polícia Civil, a partir de 2014, que se tornou possível detectar a duplicidade de registros por meio de impressões digitais.
O juiz com nome britânico falso agora responde a processo penal pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso. O episódio reacendeu o debate sobre a necessidade de rigor nos processos de admissão em cargos públicos e na verificação de documentos oficiais. Entidades da magistratura evitam comentar o caso, mas especialistas afirmam que o Judiciário precisa rever seus critérios internos para evitar que episódios semelhantes voltem a acontecer, mesmo que isoladamente.
O desfecho do caso do juiz com nome britânico falso deve impactar futuros julgamentos relacionados à confiabilidade de atos praticados por servidores públicos sob identidade irregular. Embora a defesa sustente que não houve prejuízo processual, questiona-se agora a validade moral e ética de sentenças assinadas por alguém que usava nome falso. A Justiça ainda deverá avaliar se seus atos como magistrado permanecem válidos ou se alguma medida será tomada quanto à nulidade de decisões judiciais.
O caso do juiz com nome britânico falso permanece como uma lição emblemática sobre a importância da autenticidade no serviço público e sobre como a verdade, por mais que demore, tende a emergir. A narrativa que uniu ficção, transtorno psíquico e ocultação de identidade se tornou um dos capítulos mais curiosos da história recente do Judiciário brasileiro. Para além das consequências jurídicas, o episódio levanta reflexões profundas sobre identidade, responsabilidade e integridade no exercício da função pública.
Autor: Liam Smith