Os fundos de recebíveis têm ganhado espaço relevante no mercado brasileiro como alternativa eficiente de financiamento e investimento. No entanto, à medida que essa indústria amadurece, torna-se evidente a necessidade de observar práticas consolidadas em outros setores, especialmente no bancário. Já na segunda linha desta análise, Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados, observa que o sistema bancário, com décadas de experiência em gestão de risco, compliance e relacionamento com clientes, oferece aprendizados valiosos que podem fortalecer a governança, a credibilidade e a eficiência dos fundos de recebíveis.

O mercado bancário opera sob uma regulação extensa e sofisticada, que moldou padrões de conduta, controle e transparência ao longo do tempo. A aplicação de critérios semelhantes nos FIDCs — como testes de estresse, avaliação de risco contínua e protocolos robustos de prestação de contas — pode elevar a confiança dos investidores e ampliar o acesso das empresas originadoras ao crédito estruturado. A adoção de ferramentas analíticas mais refinadas e o uso intensivo de dados para acompanhamento das carteiras também representam caminhos para profissionalizar ainda mais o setor de fundos.
Fundos de recebíveis: aprendizados em governança, risco e eficiência operacional
Um dos principais pontos em que os fundos de recebíveis podem se inspirar no setor bancário é a governança estruturada. Os bancos desenvolvem há décadas processos internos sólidos para gestão de crédito, que envolvem múltiplas camadas de aprovação, auditoria e monitoramento. Segundo Rodrigo Balassiano, os FIDCs, muitas vezes operando com estruturas mais enxutas, ainda enfrentam desafios no controle de riscos e na padronização das práticas internas. Aprimorar a governança significa instituir comitês ativos, políticas de crédito claras e mecanismos de prevenção a conflitos de interesse.
Outro aspecto relevante é a precificação do risco. O setor bancário utiliza modelos sofisticados para determinar limites de exposição, exigências de garantias e provisionamento de perdas. Nos fundos de recebíveis, a replicação parcial dessas ferramentas — com devida adaptação às características dos ativos e dos cedentes — pode evitar alocações excessivamente concentradas ou mal dimensionadas em relação à qualidade dos recebíveis. O aprendizado aqui está na forma como os bancos conciliam risco e retorno, protegendo tanto seu balanço quanto a estabilidade do sistema financeiro.
Além disso, o relacionamento com originadores e investidores exige padrões mais transparentes e profissionais. Bancos mantêm departamentos dedicados à comunicação com clientes, suporte a parceiros e acompanhamento regulatório. Os FIDCs, por sua vez, devem aprimorar a forma como se relacionam com os cedentes e cotistas, garantindo a clareza das informações, a previsibilidade dos fluxos e a confiança na operação. Rodrigo Balassiano ressalta que esse avanço na comunicação e no suporte institucional é um diferencial competitivo em um mercado cada vez mais sensível à transparência e à reputação.
Do ponto de vista operacional, os bancos já digitalizaram grande parte dos seus processos, com uso de inteligência artificial, biometria, APIs e plataformas integradas. Os FIDCs, para manterem sua atratividade, precisam acompanhar esse movimento, investindo em automação, integração de dados e análise preditiva. Isso permite reduzir custos, agilizar decisões e mitigar falhas humanas. A integração tecnológica entre gestor, administrador, custodiante e auditor é hoje um requisito essencial para fundos que buscam escalabilidade e solidez.
Considerações finais
A evolução dos fundos de recebíveis depende, em grande parte, da capacidade do setor de aprender com práticas já consolidadas no ambiente bancário. A governança robusta, a gestão criteriosa de risco, a eficiência operacional e a transparência institucional são pilares que os FIDCs podem incorporar de forma adaptada, respeitando suas especificidades. Na visão de Rodrigo Balassiano, o fortalecimento desse mercado exige um esforço conjunto de gestores, reguladores e investidores, voltado à profissionalização contínua e ao compromisso com boas práticas. Essa aproximação com os padrões bancários pode ser o caminho para uma indústria de fundos mais madura, confiável e sustentável.
Autor: Emma Willians