O Brasil se destaca mundialmente por ter a maior proporção de advogados em relação à sua população. Com um advogado para cada 164 habitantes, o país supera os Estados Unidos, onde a relação é de um advogado para cada 253 pessoas. Essa realidade se reflete na crescente demanda por cursos de Direito, que atraem anualmente cerca de 120 mil novos candidatos ao Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Embora a Índia tenha um número absoluto maior de advogados, com mais de 2 milhões, sua população de 1,4 bilhão resulta em uma proporção de apenas um advogado para cada 700 habitantes. Comparando com países vizinhos, a Argentina possui 126 mil advogados para 46,1 milhões de habitantes, resultando em um advogado para cada 365 pessoas. Em Portugal, a relação é de um advogado para cada 625 habitantes, enquanto no Reino Unido, há um advogado para cada 471.
Desde 2008, o Brasil viu um aumento significativo no número de advogados, passando de um para cada 322 habitantes. Esse crescimento é impulsionado pela abertura de novos cursos de Direito, que saltaram de 235 em 1995 para 1.896 em 2023, um aumento de 706%. Especialistas atribuem esse fenômeno a fatores históricos e sociais, como a valorização das profissões jurídicas e a busca por estabilidade em concursos públicos.
A formação em Direito é uma das mais procuradas, não apenas para a advocacia, mas também para outras funções jurídicas, como juiz e promotor. A popularidade do curso também foi impulsionada pela midiatização do sistema judiciário, especialmente após eventos como a Operação Lava Jato, que despertou o interesse da população por carreiras na área.
Entretanto, a qualidade dos cursos de Direito no Brasil é uma preocupação crescente. Um levantamento da OAB revelou que apenas 11% dos cursos são considerados de boa qualidade. A avaliação é baseada nos resultados dos alunos nos exames da OAB e no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Essa situação levanta questões sobre a formação dos futuros advogados e a eficácia do sistema educacional.
A OAB também expressou preocupações sobre a possível autorização de cursos de Direito na modalidade à distância, defendendo que a qualidade deve ser priorizada em vez da quantidade. Atualmente, o curso de Direito é oferecido apenas na modalidade presencial, com 750 mil matrículas ativas.
O Ministério da Educação (MEC) regula a oferta de cursos superiores e está em diálogo sobre a possibilidade de cursos de Direito a distância. A OAB, no entanto, se opõe a essa expansão, enfatizando que a prioridade deve ser a melhoria dos cursos já existentes. A discussão sobre a qualidade do ensino jurídico é fundamental, pois a formação inadequada pode impactar a prática da advocacia no país.
Por fim, a crescente demanda por advogados e a expansão dos cursos de Direito no Brasil refletem uma sociedade em busca de justiça e estabilidade. Contudo, é essencial que essa expansão venha acompanhada de um compromisso com a qualidade da educação, garantindo que os profissionais formados estejam aptos a atender às necessidades da população.