Durante anos, empresas se esforçaram para ocupar espaço no Reclame Aqui como forma de mostrar comprometimento com o consumidor. Era visto como um gesto de responsabilidade: estar lá, ouvir, responder, resolver. Mas o cenário mudou. O que era uma ferramenta de apoio virou um terreno perigoso, onde marcas sérias se veem em um ciclo de exposição que não termina — e, muitas vezes, não compensa.
A lógica é simples, mas cruel. A empresa que responde com frequência aparece mais. E quanto mais aparece, mais o Google entende que ela está envolvida em problemas. O resultado é uma presença digital marcada por títulos negativos, mesmo que todas as queixas tenham sido resolvidas com excelência. A solução não limpa a reputação — apenas reforça a narrativa de que ali há conflito constante.
Ao mesmo tempo, o consumidor aprendeu a usar o sistema a seu favor. Reclamar virou estratégia, não última tentativa. Muitos pulam os canais oficiais da empresa e vão direto ao site, porque ali sabem que terão visibilidade e resposta mais rápida. Isso distorce o propósito da plataforma e cria uma relação de pressão. A empresa deixa de ser ouvida e passa a ser coagida a resolver tudo com urgência — não por respeito, mas por medo da exposição.
Esse ambiente contamina o trabalho dos setores de marketing e atendimento. O foco deixa de ser relacionamento e passa a ser contenção. É uma operação constante de apagar incêndios públicos, que prejudica a reputação até de marcas com alto padrão de excelência. Pior: o histórico negativo permanece visível para qualquer busca futura, mesmo quando não representa a realidade atual do negócio.
É nesse contexto que muitas empresas começam a repensar sua participação no Reclame Aqui. Em vez de alimentar um sistema que lucra com o conflito, optam por investir em canais próprios, com atendimento direto, eficiente e silencioso. Não há exposição pública, não há indexação de problemas, e a relação com o cliente pode acontecer em um ambiente mais equilibrado e construtivo.
Esse reposicionamento também lança luz sobre a fragilidade da própria plataforma. Sem a participação das empresas, o site perde dinamismo, perde relevância nos buscadores e, com o tempo, perde audiência. O conteúdo sem resposta tem menos valor para o consumidor — e para o Google. A força do Reclame Aqui depende da obediência silenciosa das marcas. Quando elas saem, ele enfraquece.
Por isso, a pergunta que precisa ser feita é: sua empresa está se beneficiando ou apenas sendo usada por esse sistema? Talvez a escolha mais inteligente hoje seja parar de jogar o jogo. Quando a marca decide sair do palco, o espetáculo perde público. E sem público, até o maior site de reclamações começa a desaparecer da vista — e do poder de influência.
Autor: Emma Willians