A ministra Maria Cristina Peduzzi, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), apontou que uma parcela da Justiça do Trabalho ainda mantém uma visão tradicional e restrita, considerando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como a única forma legítima de proteção aos trabalhadores. Essa postura, segundo a ministra, dificulta a aplicação dos precedentes vinculantes fixados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e reflete diretamente no crescente número de reclamações constitucionais contra decisões trabalhistas apresentadas à Suprema Corte.
Em entrevista à série Grandes Temas, Grandes Nomes do Direito, da revista Consultor Jurídico, a ministra ressaltou que o volume de reclamações constitucionais contra decisões da Justiça do Trabalho, tanto de tribunais regionais quanto do próprio TST, tem se tornado expressivo nos últimos anos. Essa movimentação judicial revela uma resistência institucional em aplicar os entendimentos firmados pelo STF que ampliam o escopo de proteção trabalhista para além do que está previsto estritamente na CLT.
Maria Cristina Peduzzi destacou que a Justiça do Trabalho, em muitos casos, utiliza a técnica do “distinguish”, ou seja, a distinção do precedente, para não aplicar determinada tese em casos concretos. Tal postura tem gerado insegurança jurídica e multiplicado as demandas no Supremo, que precisa constantemente reafirmar a obrigatoriedade do respeito aos precedentes vinculantes para uniformizar a jurisprudência.
A ministra explicou que essa divergência de entendimentos compromete o objetivo dos precedentes do STF, que é justamente estancar o aumento do número de reclamações constitucionais e garantir segurança e estabilidade jurídica nas relações trabalhistas. Ao não reconhecer as decisões superiores, a Justiça do Trabalho contribui para um ambiente de incertezas e disputas judiciais prolongadas.
Além disso, a ministra fez um alerta para a necessidade de modernização e adaptação da Justiça do Trabalho às novas formas de relação laboral, que muitas vezes fogem do modelo tradicional da CLT. Conforme apontou, o mundo do trabalho tem se transformado rapidamente, exigindo que os tribunais acolham interpretações mais amplas e atualizadas para proteger direitos que não estão diretamente previstos na legislação clássica.
Maria Cristina Peduzzi também ressaltou a importância do sistema de precedentes como instrumento fundamental para garantir estabilidade social e jurídica, preservando a autoridade do STF e promovendo a uniformização das decisões judiciais em matéria trabalhista. Segundo ela, a atuação dos juízes trabalhistas deve estar alinhada a esse sistema para fortalecer a segurança jurídica e reduzir a litigiosidade.
Por fim, a ministra chamou atenção para o papel dos magistrados trabalhistas em preservarem a jurisprudência do STF, evitando a multiplicação de decisões conflitantes que acabam por sobrecarregar a Suprema Corte e dificultar a efetividade da Justiça. A ministra Peduzzi conclui que essa sintonia é essencial para assegurar a efetividade dos direitos trabalhistas e a confiança no sistema judicial brasileiro.
Essa análise revela uma importante tensão entre o conservadorismo tradicional da Justiça do Trabalho e a necessidade de adaptação ao cenário jurídico atual, onde os precedentes do STF ganham cada vez mais força para orientar decisões, garantindo a proteção dos trabalhadores em contextos diversos e modernos. A ministra Maria Cristina Peduzzi se posiciona como uma voz crítica e propositiva nesse debate, ressaltando os desafios e caminhos para o aprimoramento da Justiça do Trabalho no Brasil.
Autor: Liam Smith